Querido cabelo colorido.

Fazem exatamente dez anos que eu pinto meu cabelo. Dez anos em que eu não vejo a cor natural dos meu fios. Recentemente, eu resolvi dar uma folga para meu cabelo e parei de descolorir ele, o que resultou em um momento de reflexão sobre todas as cores de cabelo que eu tive durante esse período. Nos dez últimos anos, meu cabelo foi de praticamente todas as cores possíveis (menos amarelo e laranja, pros curiosos), incluindo cores mais chamativas que não se encontram nas tinturas de farmácia.

Nada mais justo então, do que fazer um post sobre ter cabelo colorido (as famosas cores fora do normal, cores do arco íris, como tu quiser chamar) para a série “Eu gostaria que tu soubesse…”. Ter cabelo colorido significa ouvir duzentas mil vezes a mesma pergunta, a mesma piada, o mesmo comentário. Para sanar algumas das dúvidas recorrentes, resolvi montar algo semelhante a um FAQ sobre meu cabelo colorido. Enjoy!

• A escolha da cor acontece assim: vejo uma cor, ou na cabeça de outra pessoa ou em objetos tipo uma árvore de natal (oi cabelo verde atual), e fico com aquela ideia no meu subconsciente por algum tempo até que um dia eu acordo e penso “vou pintar meu cabelo dessa cor hoje”. Aí eu pinto. Fim.
• Não, eu não sei qual cor eu vou pintar depois dessa. Eu sou o tipo de pessoa que é incapaz de planejar a vida com antecedência, então decidir uma cor de cabelo acontece de maneira muito mais impulsiva do que eu gostaria de admitir.
• Não sei se “está na moda”. Eu faço porque acho legal, não porque os outros estão fazendo ou para me sentir bonita. Faço porque me sinto mais eu, porque não me levo tão a sério.
• Sim, é um saco de manter. Dura pouco, desbota com facilidade, tenho que retocar e hidratar constantemente. E eu pinto com anilina para madeira diluída no condicionador. Entendido?
• Eu ter o cabelo colorido não te dá o direito às seguintes coisas: apontar na minha direção na rua, gritar frases como “olha fulana a cor do cabelo dela”, tocar no meu cabelo sem a minha permissão, tirar foto para mostrar para a amiga que também quer pintar dessa cor ou desrespeitar meu espaço pessoal de qualquer outra maneira. Eu sou uma pessoa, não um animal de zoológico.
• Normalmente quando as pessoas elogiam a cor escolhida do momento, dizendo “eu acho legal teu cabelo”, elas esperam que eu vá pular de alegria e agradecer com um sorriso enorme no rosto. Daí a decepção quando eu agradeço somente por educação, com minha expressão séria de sempre no rosto. Eu sei que intenção é boa, não me levem a mal. Mas acontece que quando tu inclui a palavra “eu” no elogio, tu está dizendo muito mais sobre ti mesmo do que sobre a pessoa que tu está elogiando. Como se tu estivesse me dando uma aprovação (que eu não preciso) para a minha escolha. Existem maneiras menos egoístas e mais lisonjeadoras de elogiar alguém.
• Meu cabelo colorido não significa que eu seja uma pessoa extrovertida. Por favor, não deduza que eu vá querer ouvir tuas piadas e comparações baseadas na minha aparência se eu não te conhecer. Isso também vale para a tua opinião pessoal sobre a cor que eu escolhi. É meu cabelo. Está na minha cabeça. Não existe motivo nenhum para que tu expresse tua opinião se eu não pedir. Parece grosseria, mas se vocês ouvissem tantas comparações com papagaios e “nossa, que coragem, eu nunca faria uma coisa dessas no meu cabelo”, vocês estariam entediados também.
• Não, eu não me arrependo. Sabe por que? Porque é só um cabelo. Ele pode fazer parte da minha aparência física, mas em hipótese alguma, define minha identidade. Não tem porque “ter medo” de pintar de cores diferentes. Cabelo cresce; se der errado, se o resultado não for aquele que eu esperava, eu pinto de outra cor, eu corto, eu raspo. Essa obsessão com a beleza que a gente nutri nos leva a acreditar que errar/arriscar com a nossa aparência é um preço muito alto a pagar caso a gente deixe de se sentir bonitas. Não. Só não. Prefiro mil vezes ter um cabelo divertido e ter a liberdade de mudar e me reinventar do que ficar presa a obrigação de ser bela.
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